O caderno vermelho

O meu pai era um homem alto e forte que chegava sempre a casa tarde. Eu ficava muito contente quando o via, com ele chegava o silêncio com que todas as coisas se vestiam, um nocturno diferente. Nunca conversamos, eu e o meu pai, talvez sobre trivialidades, frases curtas, para que eu agora não pudesse escrever que conversava com o meu pai. 
Eu achava que tinha o melhor pai do mundo, mas estava enganada, há pais melhores, o meu era mais ou menos. Eu às vezes queria estar muito zangada com ele, mas não consigo, primeiro porque ele é meu pai, segundo porque sei que ele não é lá muito feliz. O meu pai é uma pessoa solitária e não consegue mostrar o que sente. Tenho pena por ele, porque o amo e ele não sabe isso. Queria que ele soubesse. 
Obrigada pai pelos pés que me deste e por me pores na rua, o mundo é um lugar grande e há espaço para todos. Somos muitos e felizes.

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