Carta (parte II)

Bebi demasiado chá, não me estou a sentir muito bem, mas a carta tem de continuar para a poder colocar amanhã de manhã bem cedo no correio. Vou usar daqueles envelopes que têm o maravilhoso frame azul e vermelho! São os meus favoritos!

Percebi finalmente que quando deixamos de ter quem nos mande para cama ou quem nos obrigue a comer bróculos (obriguem-me, eu adoro!9, deixamos de ser tão activos. Preciso de uma guerra qualquer, por favor, desafiem-me num duelo de morte!

Querido amigo, sinto que estou numa história de crianças mas as coisas não parecem fazer sentido, e eu tento, acredita, tento não deixar de ver aquela linda árvore amarela lá ao fundo, sim, a amarela, mas tudo indica que ela é verde. Tudo equivale a X. E eu tenho sonhos de ruas inclinadas, bons dias, o café, o caderno com rabiscos. Às vezes não consigo falar dos meus sentimentos. Consigo mascará-los de formigas e fazê-los desfilar diante de uma manada de papa-formigas sem os bichos perceberem que ali têm um belo banquete animal... (disperso-me?)

Estou a reaprender a comunicar, é mais difícil do que eu me lembrava, é sempre mais fácil vestir-me de qualquer coisa e fingir que esta não sou eu, eu sou aquela que está esparramada em meia dúzia de linhas e que tem a vida mais fascinante alguma vez vista (sim, comeu mangas no Cambodja e...).

Aqui estou, sem o meu sofá verde, os telhados das minhas aventuras, as janelas, o rádio que tocava sem parar... Onde tenho estado eu ao longo de todo este tempo? Sentada cá atrás a ver e sem perceber estes nós que se formaram à minha volta. Tenho saudades das coisas mais simples.

Quero recuperar essa fascinação e... e viver finalmente como sempre gostei! Vou colocar esta carta dentro de um envelope e enviar-ta, perdoa-me, meu querido, querido amigo, é um esquisso amargo de quem dá os primeiros passos no caminho de regresso à estrada principal!

Não tenho um cão, nem esse cão que não tenho tem cão... e os dias não são sempre uma montanha russa com túneis secretos, às vezes os meus chinelos podem incomodar, porque são os mesmos todos os dias, mas e depois?

Quando quiseres, diz-me, e vamos desenhar esse café.
E, e fica prometido... outras cartas chegarão!

Um abraço apertado, deste lado do mundo

a tua amiga que te ama
R

1 comentário:

Anónimo disse...

tão linda nesta foto!
tenho saudades tuas. Um beijinho
Irene