Canetas de feltro em unhas de criança
Se a vida não surtir efeito eu mato-me e deixo ficar para trás estas frases malditas presas no goto de algum amante amaldiçoado. Mãe, chama por mim ou atravesso a estrada sem olhar para os lados.
"Sai da estrada, Mãe do Céu, e querias ir tu para a escola sozinha".
Eu não queria ir sozinha, eu queria ir contigo, todos os dias de mão dada - mas nunca te disse nada.
Agora é tarde de mais e já não posso sair da estrada, é o único lugar onde posso estar, é seguro, pode-se sonhar e espairecer. Divago... rendas, rendas ao vento, rendas sobre o corpo de uma mulher, e eu que gosto de beijar bocas com batom. Por favor, deixe uma mensagem - I love you.
"Sai da estrada, Mãe do Céu, e querias ir tu para a escola sozinha".
Eu não queria ir sozinha, eu queria ir contigo, todos os dias de mão dada - mas nunca te disse nada.
Agora é tarde de mais e já não posso sair da estrada, é o único lugar onde posso estar, é seguro, pode-se sonhar e espairecer. Divago... rendas, rendas ao vento, rendas sobre o corpo de uma mulher, e eu que gosto de beijar bocas com batom. Por favor, deixe uma mensagem - I love you.
O caderno vermelho
O meu pai era um homem alto e forte que chegava sempre a casa tarde. Eu ficava muito contente quando o via, com ele chegava o silêncio com que todas as coisas se vestiam, um nocturno diferente. Nunca conversamos, eu e o meu pai, talvez sobre trivialidades, frases curtas, para que eu agora não pudesse escrever que conversava com o meu pai.
Eu achava que tinha o melhor pai do mundo, mas estava enganada, há pais melhores, o meu era mais ou menos. Eu às vezes queria estar muito zangada com ele, mas não consigo, primeiro porque ele é meu pai, segundo porque sei que ele não é lá muito feliz. O meu pai é uma pessoa solitária e não consegue mostrar o que sente. Tenho pena por ele, porque o amo e ele não sabe isso. Queria que ele soubesse.
Obrigada pai pelos pés que me deste e por me pores na rua, o mundo é um lugar grande e há espaço para todos. Somos muitos e felizes.
O pecado mortal
E no silêncio da mente há o desejo de acreditar nas suas próprias regras, de seguir em frente sem receio de sentir falta do que nunca viveu. No tecto, os carros seguem sem parar, alheios a qualquer tumúlto do coração.
No silêncio do quarto apenas o vazio e a incerteza de sentir,
"Quero tanto sentir. Sou de carne e osso ou serei a fingir?"
No silêncio do quarto apenas o vazio e a incerteza de sentir,
"Quero tanto sentir. Sou de carne e osso ou serei a fingir?"
As cartas do amor | The love letters
(Segunda carta de amor da coleção comprada na Feira da Ladra)
2, Lee Park Gateacre, Liverpool
8.5.1960
Dear V.
Remembering you is the only truth I know.
Having known you is the only beauty of my life. In my heart there is one smile, the smile of your heart in mine when we were together. These are the words of Byron a writer; these are my thoughts, why do you not write?
"Why are thou silent? Is thy love a plant
Of such meak fibre that the treacherous air
Of absence withers what was once so fair?
Is there no debt to pay, no boon to grant?"
I have so much to say to you, yet my brain is confused, my nerves are taunt, I cannot think clearly. One thought alone dominates all others, the one who ruins, I love you. Nothing more, there can be no more, there is need of nothing more.
Love is the be-all and end all of existence.
God is the ultimate reality, but God is love, therefore, love is the ultimate reality.
You are before me always, I can do nothing without thinking of you from morning till evening, even in my dreams. It s strange thing, I cannot remember your face clearly when I see you it is as though there was a mist between us, yet I can feel your skin, warm and soft, I remember your arms gently, though firmly around me, enveloping me, holding me safe, I feel the silky texture of your hair, I remember your hands. I love to sit at your feet and caress your hand with my check. I love you V. I ask nothing from you, save that you do not betray my trust, for my heart is fragile as china and it can never be mended, for I am young and inocent as the moon, and I am your slave.
"Being you slave what should I do but tend
Upon the hours and times of your desire?
I have no precious time at all to spend
nor services to do till you require"
I am tired, so very very tired. The last time I wrote to you, I did not finish until three o'clock in the morning, but tonight I cannot even keep my eyes open, for they are heavy, and I feel weak.
"O que me falta? Não sei
Talvez a morte, talvez
uma mão acarinhando a minha fronte dorida"
I sleep, perchance to dream, and if to dream, to dream of you, V., for in dreams one finds memories, in dreams I can remember.
"Na noite de todos os tempos
eu queria gravar a luz do teu rosto"
(...)
V. please write, because I love you.
Imelda
nor services to do till you require"
I am tired, so very very tired. The last time I wrote to you, I did not finish until three o'clock in the morning, but tonight I cannot even keep my eyes open, for they are heavy, and I feel weak.
"O que me falta? Não sei
Talvez a morte, talvez
uma mão acarinhando a minha fronte dorida"
I sleep, perchance to dream, and if to dream, to dream of you, V., for in dreams one finds memories, in dreams I can remember.
"Na noite de todos os tempos
eu queria gravar a luz do teu rosto"
(...)
V. please write, because I love you.
Imelda
Desabitada
Temo, que nestas cerimonias diárias te te exorcizar do meu corpo e pensamento, que servem simplesmente para me esquecer de ti, tenha esquecido também quem sou. Não tinha pensado ainda, que para continuar a viver necessitaria de um pouco de veneno diário para tudo fazer algum sentido e imitar a sensação de rumo que é necessária para não enlouquecer.
O meu caderno está vazio. Não permito que nada aconteça em suas páginas. Talvez me falte imaginar o toque da tua pele. E ao escrever estas palavras, no limiar da piroseira romântica sei que para ser vil, crua e nua, preciso do teu mal. E o teu mal passa por me abraçares sabendo que no dia seguinte e em todos os outros não pensarás em mim.
E eu aqui, engolindo em seco o teu nome sempre que recordo o futuro que imaginei para nós. Não, não seriamos felizes... estou apenas certa que escreveria sobre nós e o quanto odiando-te te amaria.
O meu caderno está vazio. Não permito que nada aconteça em suas páginas. Talvez me falte imaginar o toque da tua pele. E ao escrever estas palavras, no limiar da piroseira romântica sei que para ser vil, crua e nua, preciso do teu mal. E o teu mal passa por me abraçares sabendo que no dia seguinte e em todos os outros não pensarás em mim.
E eu aqui, engolindo em seco o teu nome sempre que recordo o futuro que imaginei para nós. Não, não seriamos felizes... estou apenas certa que escreveria sobre nós e o quanto odiando-te te amaria.
Esconderijo
É estranho que o meu coração tenha estas salas secretas onde te escondes. Sempre que te encontro numa delas e faço o ritual da despedida mudas para outra. Moras dentro dos meus sentimentos. E eu tenho tantos.
Nos momentos em que consigo sentar-me sozinha e o silêncio da casa serve de cobertor para os meus pensamentos, sei que esta minha obsessão pelo amor e paixão não passa de uma borbulha de adolescência que irá desaparecer um dia, quando me olhar ao espelho e me confrontar com o tempo. Irei perceber o quão ridícula sou com este acne crónico dos sentimentos. Mas por enquanto só consigo pensar na sensação que tenho quando te toco às escondidas. Quando te digo que te amo, mesmo que o faça sem o dizer, a olhar-te ao longe sem me veres. Outras vezes, quando fico muito zangada por este ridículos momentos em que sangro de afetos, apetece-me matar-te para sempre, cortar o membro que pulsa por ti e livrar-me dele queimando-o. Esconjurar-te para sempre.
Nos momentos em que consigo sentar-me sozinha e o silêncio da casa serve de cobertor para os meus pensamentos, sei que esta minha obsessão pelo amor e paixão não passa de uma borbulha de adolescência que irá desaparecer um dia, quando me olhar ao espelho e me confrontar com o tempo. Irei perceber o quão ridícula sou com este acne crónico dos sentimentos. Mas por enquanto só consigo pensar na sensação que tenho quando te toco às escondidas. Quando te digo que te amo, mesmo que o faça sem o dizer, a olhar-te ao longe sem me veres. Outras vezes, quando fico muito zangada por este ridículos momentos em que sangro de afetos, apetece-me matar-te para sempre, cortar o membro que pulsa por ti e livrar-me dele queimando-o. Esconjurar-te para sempre.
Que sejas feliz.
Que sejas feliz.
E eu?
(Suspiro....)
(Suspiro....)
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