What the hell am I doing wrong with my life?

escrever com os dedos

Pudesse eu descrever o que sinto e seria uma pessoa feliz. Mas nem isso. Há riscos nas palavras, e todas elas não passam disso, um desenho no papel, mas um desenho abstracto que pode significar tanta coisa que não há tempo para explicar o que têm para dizer. Esmoreço perante a insignificância dos sentimentos que poderão existir dentro de mim, das palavras e dos desenhos - por dentro ou por fora. E atiro com as folhas pela janela, rasgo os cadernos que nunca vou escrever, e apetece-me até cortar a língua, pois  falar me parece inútil, com tantos ouvidos surdos por aí fora.
Ficar somente com os olhos, para ver tudo com a tristeza que também eu sou como aquele cão, um ser crédulo à espera de ser solto para a seguir me apedrejarem e me mandarem embora, para não me quererem. E não vou perceber porque me libertaram então, para depois não me quererem. Antes preso numa casa abandonada na esperança vã que um dono asqueroso me viesse visitar um dia, do que aquilo. Libertarem-no, darem-lhe esperança e depois abandonarem-no assim, à pedrada.
Não durmo com a imagem daquele cão na cabeça, e acordo de noite para o ver a correr atrás do carro, e já não sei se sou eu que estou a correr ou se é o cão, só sei que quero que me levem para casa, mas o carro pára e atiram-me com pedras.
Há dias em que o mundo é apenas um buraco horrível cheio de gente com quem não apetece estar.

Tired of fooling myself

Coisas simples (cadernos vermelhos, como corações em chamas)

Achava que escrever era tão natural como ter sede, afinal é muito mais complicado. Não é como a vontade de beber, que quando se tem sede se bebe, é muito mais complexa e retorcida que isso, envolve rebuscar e esgravatar a alma até fazer sangue. Para além que por vezes se tem que fingir... Ainda por cima eu já não sei nada, eu já não sei se escreva ou se beba.

o frio é uma cor que fica sempre bem



O, let me forever weep:
My eyes no more shall welcome sleep.
I'll hide me from the sight of day,
And sigh my soul away.
He's gone, his loss deplore,
And I shall never see him more.

tira isso da cabeça e põe o resto no lugar

as manhãs de Novembro são tramadas - odeio Novembro - pela segunda vez em 10 anos de vida

O primeiro mês é, de todos, o mais confuso. Não percebeste ainda o significado daquela ausência e olhando para trás achas que tudo não passou de um sonho estranho. No segundo mês, as coisas acalmam e a ausência torna-se mais marcada. Os objectos pessoais estão nos mesmos lugares sem ninguém ter mexido neles e questionas-te, muitas vezes, se haverá realmente um regresso ou se aquele sonho foi real. No terceiro mês não queres falar no assunto, estás zangado com toda a gente, achas que alguém é culpado, que te mentiram, que foste enganado. Querias ter mais tempo, querias ter dito outras coisas e roubaram-te todas essas oportunidades. Questionas o sentido da vida, queres estar só, odeias tudo. Os meses seguintes são passados a ignorar esse facto, queres que te tratem com normalidade, dizes que não aconteceu nada e que está tudo bem. Um ano depois já és capaz de dizer: a minha mãe morreu.

bifurcação

Ser quem? Não sei, quem quer que seja, todos menos tu.

Foi em devaneios febris que me imaginei nos braços de um marinheiro infeliz, que de bêbado, se afundava nas águas escuras do Rio Tejo, triste e solitário por não ter a quem amar. Chorei a noite inteira por não ter marinheiro nem rio onde me afogar, chorei por ser somente uma rapariga solitária a vaguear sem rumo, para não chegar a lugar nenhum. Que histórias, que personagens, que vidas, o que haverá lá fora?
Onde estará tudo isso?
Para onde ir agora que o vinho já acabou e não há o que fazer.
As linhas confundem-me, parecem-me redes de pesca e eu peixe inocente sem saber escapar a elas.
Rapariga, rapariga. O que andas tu a fazer? Tu queres é bailarico.

Question Mark

Do i have to be fashion to be cool?

amanheceu um lindo dia cheirando a alegria

Ain't no use baby, I'm living the scene... things wont be the same.

Eu me perdi no bolso daquele casaco de Inverno

Eu me perdi na sordidez de um mundo
Onde era preciso ser
Polícia agiota fariseu
Ou cocote

Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra

Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar

(sophia)



Quando queremos começar, como começamos?
Onde estão escondidas essas palavras mágicas, esses sons que nos suscitam paixões e clamores?
Quais os traços certos? É certo? É errado? O começar é. Mas diz-me, vamos? Agora!
E assim me deixo levar pela chuva que embrulha as coisas como mantinha de lã (que não pica!).Começo por esticar os braços ao mundo logo de manhã dizendo trauteando: «bom dia».

O começo é aquele sorriso que não se explica.
Ah, como me perco sempre nas coisas mais pequeninas! Visto o casaco de sempre, aquele que nos lembra sempre que estamos conosco nos momentos mais importantes, abro a porta com o poema no bolso e saio. Talvez me encontres.

- Espera... Puedes caerte... (Y se asomarom los dos dándose de nuevo la mano) - "Narcisa le Fou" * - (os livros moribundos)



- Can you love me for what I really am?
- What is that?
- I don't know...
- How is that going to work?
- Its a mystery!
- No, it's sad.
There's something wrong with our hearts... When they beat pure they stand apart.

Nota de giz na parede (que a água não levou)

da próxima vez que te vir vou abraçar-te até ficares corado

Ay...! (os livros moribundos)

To let myself go its the only way of be (os livros moribundos)


tu queres assim

Folhas e folhas com riscos que falam de histórias. Umas inventadas outras nem tanto, todas saídas dos confins do imaginário de uma miúda que precisa de aprender Francês, precisa de arranjar as unhas e acima de tudo precisa de parar de sonhar com o Romeu e a Julieta - Baby, Baby... tu ru ru ru!

Sempre actual (diálogos com objectos)

- O que é que vais fazer?
- Vou sonhar.
- Mas ainda é cedo.
- Não, não... receio que seja tarde.

Não me deixes (como que "nota solta sem dono" à espera de ser lida)

Confesso que por vezes ser forte é difícil. Ser forte significa engolir as lágrimas e fingir que nada nos afecta. Significa fingir que sabemos o que estamos a fazer, que já sabemos tomar conta de nós, que já separamos a roupa branca da roupa de cor quando pomos a máquina da roupa a funcionar. Mas é tudo mentira.

Não está tudo bem.
As datas continuam a ter significados atrelados a elas e, apesar de já não chorar, de fingir que sou uma mulherzinha como no filme, as lágrimas caem para dentro como se os rios pudessem correr para dentro das nascentes e criar vales debaixo da terra, debaixo do corpo, dentro da alma.
Não está tudo bem porque os calendários continuam a acrescentar dias aos anos, anos aos dias, e subitamente as rugas vão cavando socalcos no rosto que dantes era de cera e agora está cada vez mais parecido com a avó Luísa. Fecho os olhos e tento viajar na máquina do tempo das memórias, mas tudo são fragmentos de uma vida que já não existe, uma pessoa que já não sou, uma vida com pessoas que não me conhecem. E tu não existes, és apenas uma sombra, uma forma cada vez mais difusa, mais distante. Fecho 
os olhos com mais força, como que para ver melhor e - nada.
Não me deixes... e lembro-me da frase "sinto-me órfã", aquela frase que tanto me chocou a certa altura da minha vida. E sabes uma coisa, acho que é isso que está a acontecer, com o passar do tempo até nas minhas memórias me começo a sentir órfã.
A tua imagem começa a desaparecer, os poucos, um pouco por todo o lado. Acho que... é difícil perder aquilo que nunca realmente tivemos.

In modo d'una marcia. Un poco largamente

'Siempre acabamos llegando a donde nos esperan.' 
José Saramago

Sou pobre. Sou tão pobre, que tenho pena de mim por ter tantos sonhos.

Estou presa entre duas linhas que me impedem de escrever. Como se  as linhas do papel me prendessem os braços. Os braços são a boca e eu não pudesse dizer nada. O tormento de estar fechada dentro da minha cabeça é uma tortura. Há que libertar tudo. Há que fugir desta loucura. Há que vomitar para fora o veneno ingerido ao longo dos anos, quebrar os pulsos em espasmos violentos de agonias reprimidas, chorar com as pontas dos dedos, deixar escorrer a verdade disfarçada em palavras bonitas e histórias engraçadas. Mãe, gostavas muito de mim. Pai, querias muito ter uma filha. (O caçador que a leve para a serra e que a mate como os outros coelhos, com um tiro na testa.)
E assim foi que eu cresci, a querer ser menina para sempre, para que nenhum homem me passasse a mão pelo pêlo nem pelo coração. Homens que amam quando convém, e as mulheres com as suas sopas doentias e as suas paixões por homens que nunca as vão amar de volta. Mas depois há os bailes e vai tudo por água abaixo, especialmente o coração.
O frio nos ossos ainda o recordo bem. O cheiro a lareira no corpo, na carne, na alma, como uma marca de nascimento - esta é do campo. Sou do campo e dos espaço, eu sei lá de onde sou.
Sou do campo, sou das árvores, sou cabrita. Sou? Não sei porque me têm em casa então! Eu devia era andar na serra com o avô José. Como é que fiquei tão partida? Como é que a rapariga ficou com o coração partido em tantos bocados? Não foi da pancada pois nem para isso tinham tempo.
Era livre como um pássaro, o importante era que comece a horas, sem incomodar ninguém e em silêncio. Graças a isso, como sempre com a boca fechada e nem consigo comer de outra maneira. De resto pergunto-me: porque não me mataram a mim também naquela tarde em que deram um tiro ao cão? É o homem assim tão cruel ao ponto de me ter poupado? Porquê? O tormento de estar fechada dentro de mim mesma é a maior tortura.

You can't always get what you want

Eu quero coisas simples:

Respirar.
Viver.
Escrever.

(Porque raio tinha que ser tudo tão complicado)

retalhos de sonhos . jogo de palavras francesas

De uma forma decidida e inequívoca ela disse-lhe:
- Quero fazer amor contigo. 
A frase, assim abandonada, deixou-o estupefacto, vacilante e trémulo. Pareceu-lhe um pedregulho enorme que se despenhava do céu e se desfazia estrondosamente. Sentiu-se como se todas as vestes, todos os véus se evaporassem... Adão à procura das inúteis folhas de figueira. As palavras haviam-se quedado numa mudez de prudência. Mais parecia que o rapaz havia perdido a voz. Talvez  receasse a traição de dizer o que não queria dizer ao soltar cada palavra cortada, entoada, silenciada, comprimida.
De olhos no chão, ele deixou tombar um pesado silêncio. Se os cabelos chegavam para lhe cobrir as letras do rosto reclinado, também desenhavam uma oculta mensagem. Estáticos, permaneceram longos momentos. Ela supôs que o sol se apagara e que a noite ocultaria os gestos traiçoeiros da nudez que queria, e não queria, esconder. 
A trémula vacilação de um momento emitiu o significante indiscreto que despiu o seu desejo. Ele bem sabia que algo, quer falasse, quer se calasse, havia de saltar de cima, de baixo, ou de dentro da letra ou do silêncio; o secreto significante do seu desejo escaparia ao controle decidido dos seus actos e diria o indizível do seu mais íntimo. Ingenuamente, ainda pensou que o seu corpo se transformaria numa estátua de sal, mas mesmo assim, o escultor perspicaz arrancou, daquelas estáticas vestes, a nudez de um corpo atraiçoado. Era o amor que medrosamente respondia ao desejo despertado pelo apelo dirigido daquela forma tão sem jeito.
Estátua de sal traída. Rapaz de olhos no chão. Cabelos descuidadamente pendidos sobre a face. Estátua de sal que ao escultor exímio deixavam evidentes as mais recônditas curvas de um corpo vacilante.
Os segundos vomitavam a duração de um tempo eterno. As palavras de desejo em forma de gesto, de corpo e de silêncio enunciavam, por entre montanhas de ambiguidades, a certeza inequívoca da sua resposta. A memória panorâmica de um instante arrebatou a ardente nudez de uma verdade espraiada ao longo de um tempo de longa espera. A rapariga olhou-o nos olhos sem se demover, confiante nas suas palavras, mas já sem esperança numa resposta. Por fim, deixou-se cair, abandonada e mole, sobre o sofá verde garrafa. Uma mão suave e terna percorreu-lhe levemente os cabelos. Ainda mais suavemente, tocou-lhe o queixo pendido como que a sugerir-lhe que levantasse o rosto mergulhado naquele infinito de antecipação.
Olhos nos olhos, num indizível silêncio, as palavras adormeceram. 
Serenamente, a sua mão de ninfa passeou-se pela cabeça do companheiro de viagem, puxou-o delicadamente para lhe lembrar que também tinha boca e lábios, embora silênciados naquela envolvencia míticaAquela estranha viagem agarrou-os para a volúpia da entrega. Longos tempos permaneceram iludidos e extasiados com a paixão de quererem a impossibilidade de serem UM.
 
A rapariga acordou espavorida. O sonho ainda percorria o seu corpo de memórias e arrepios. Levantou-se, não queria perder aquela sensação de presença recente ausente. Olhou pela janela e a lua ia já alta. Repetiu a frase para si e sorrindo ajeitou as mantas da cama, era hora de voltar a adormecer. 

You're terribly terribly... just keep playing your part!

"If we cannot strew life's path with flowers we can at least strew it with smiles."
(E. Maria Abanesi, The Beloved Enemy, 1913)

Livro encontrado na rua, sem eira nem beira!

keep your head down

todos esses pequenos sonhos dentro da cabeça só te fazem perguntar, porquê? e quando acordas, começas a chorar. contra todas as marés, há barcos que se constrói-em em alto mar.